Li
um texto na página: “Aos olhos da Rita”, que adorei e no qual me identifico.
Neste texto falar do que sinto/sentimos ao ser/sermos portadora/s de paralisia
cerebral. Gostava de partilha-lo convosco, por isso, vou descreve-lo com
algumas alterações e acrescentei frases do meu sentimento.
“Quero
dar-vos conta de como eu sinto e vivo com a paralisia cerebral. Dizem-me que
sou positiva na maneira de ver e escrever o mundo em redor. É verdade que
poucas vezes pensei em abordar este tema nos meus textos. Toca-me, vivo com ele
e por isso ganhei vontade e é disso que vos falo, na minha maneira de ver as
coisas.”
Confesso
que sou muito feliz e alegre. As pessoas questionam-me de estar sempre contente
e sorridente, como se houvesse resolução para o meu problema que vai viver
comigo para sempre… “Mas na verdade, eu encaro muito bem a paralisia
cerebral, mas há coisas que me preocupam”, porque agora como sou adulta e
já penso no meu futuro, em ter uma pessoa que me ame, tal como sou, em ter um
trabalho efetivo, em ter a minha própria casa, em ter filhos,… Mas quem sabe,
se um dia consiga ter isso tudo? Não existe impossíveis e irei provar a muita
gente que conseguirei realizar os meus objetivos e sonhos, é viver um dia de
cada vez e aproveitar o que a vida nos vai oferecendo!
“Agora
o que eu sei, é que a sociedade quando olha para uma pessoa com paralisia
cerebral, pensa sempre assim: – “Ai coitadinha é tão lindinha, e nem vai casar
nem ter filhos nem vai conseguir tirar a carta de condução…ai coitadinha “.
Coitadinho
é de quem pensa assim. Digam lá se não concordam comigo? O meu pensamento é
muito positivo e com boa disposição, que irei crescendo na diferença.
Também acho que por mais que se criem dias de sensibilização, a sociedade ainda
está muito aquém daquilo que podia ser a aceitação da diferença e daquela
palavra bonita de dizer e pouco usada… a solidariedade. Não acham que é assim
como digo e que tenho razão?
Por
mim, encaro a vida com felicidade e alegria. Acho que não é preciso
andarmos aí a chorar pelos cantos, porque senão, é pior para se ultrapassarem
os obstáculos que vamos tendo ao longo do caminho da vida!.
A
minha vida ainda é curta, mas digo-lhes que tenho memória de coisas por que já
passei, aquilo que nem mesmo os adultos passaram. Dores, sofrimento,
terapias que me revoltavam pela maneira como me doíam e eram feitas. Ouvir
médicos a dizer coisas aos meus pais, pensando que eu não entendia tudo da
maneira como eles diziam.” Ao fim de cada consulta, riamos da maneira com
os médicos explicavam. Desde de pequenina, que os meus pais me explicavam
sempre tudo, o porquê que tenho paralisia cerebral aos tratamentos, consultas,…
“Acho que isso também me ajudou a ficar assim como sou, com uma carapaça
sorridente” e com força para continuar a lutar. “Claro…os meus pais
sempre muito amigos e preocupados. Sabe Deus como eles sofreram! A minha mãe
muito presente, a correr comigo para todo o lado, onde achavam ou lhes contavam
que poderia ter melhoras. O meu pai sempre positivo e a fazer-me rir, como um
exemplo para lidar com a indiferença. Sempre a darem-me força para eu ser ainda
mais forte. Foi por isso que consegui chegar aqui com esta determinação e boa
disposição. Acho que agora já não vou perder três palavras essenciais
para a minha forma de ser. Determinação, boa disposição e “tu
conseguis”.
O
meu percurso de vida ainda é curto, mas digo-vos que já passei por alguns
obstáculos, que muitas pessoas, ao longo da sua vida toda, não passaram. No
entanto encaro a vida a sorrir, tendo sempre em mente a palavra
“Vontade!”.
Como
já vos disse, quando tiver mais uns aninhos, quero ter um contrato de trabalho
efetivo na Câmara Municipal de Barcelos ou noutra empresa, mas
para isso ainda tenho “batalhar” e “lutar” muito. “Quando se é diferente,
não basta ser bom, tem que se ser muito bom, para marcar a tal diferença.” Aqui
posso usar a frase que a minha mãe transmite-me: “Sem esforço nada se
consegue!”.
“A
família na questão de lutar, é importante porque nunca nos deixa ir abaixo.
Mesmo baixinho e ao ouvido, eles estão sempre, sempre a repetir as palavras,
“Querer e Determinação”. Para mim, isso tem um papel importante. Eu não vos vou
mentir, não pensem que às vezes também não passo por momentos mais
difíceis e tristes, porque a verdade é que passo, não sou diferente das outras
pessoas… Mas essa tristeza passa logo para a boa disposição, começo por
disfarçar e depois esqueço-me que estava triste.”
Existem
dias em que sinto uma revolta dentro de mim, choro, grito e questiono: “O
porquê que aconteceu isto a mim? Porquê que nasci assim? Como é que os médicos
fizeram isto? Existe Deus? Se existe porquê estou assim?” Queria correr,
saltar, ter uma vida de uma pessoa “normal”, ajudar os meus pais na
pastelaria,… De seguida, passa tudo e tento pensar nas minhas qualidades e
virtudes.
“Já
percebi há algum tempo, quando comecei a pensar nisto tudo, que a família ao
longo da minha vida, terá sempre um papel importante. São eles que nunca
me vão deixar de lembrar que tenho que sorrir, pela sorte que tenho em ser como
sou!”
O
meu caminho tem por base a vontade de querer, ainda mais, e de olhar o mundo,
por vezes cruel, que me rodeia de forma sorridente. “Afinal a Diferença e a
Paralisia Cerebral são apenas uma forma de viver.
Quem
disse que a paralisia é que me impõem limites a mim? Fiquem já a saber que para
mim não existem limites, sou eu que imponho à paralisia. Faço questão que
ela perceba sempre quem manda!
Além
disso, eu não sou a paralisia cerebral…eu sou a Ana Rita!