sábado, 20 de fevereiro de 2016

Na hora do meu nascimento

No dia 5 de Maio de 1994, às dezasseis horas, decidi vir ao mundo. A minha mãe, desde manhã, estava a trabalhar e cheia de dores nos rins. Mas às dezasseis horas começou a ter contracções. Foi à clínica dizer que estava com contracções, mas queriam fazer o parto no dia seguinte, porque a médica dava consultas e assim, num intervalo, faziam o parto. Mas as dores e as contracções eram tantas que a minha mãe às dezassete horas decidiu ir outra vez à clínica. E ficou na sala de parto até às vinte e duas horas e trinta minutos à espera dos obstetras que vinham de Braga. Como as águas nunca mais rebentavam, foi a enfermeira que teve que as rebentar, para a minha mãe estar mais aliviada.
Quem fez o parto foi um casal de médicos (marido e mulher). Na sala de partos estavam os dois obstetras, a parteira, o pediatra, a enfermeira e o anestesista. O meu bater cardíaco estava bom e já estava na posição certa (com a cabeça encaixada na vagina da minha mãe), por isso decidiram que iria ser parto normal. Estava tudo para correr bem!
Todavia, não se aperceberam que eu estava com o cordão umbilical enrolado à volta do pescoço. Só nasci à meia-noite e quarenta. Estiveram desde as vinte e duas horas e trinta minutos até à meia-noite e meia a tentar tirar-me. Era meia-noite e meia do dia 6, a minha mãe estava cheia de dores e já estava na hora de eu sair. No entanto, isso não aconteceu e os médicos decidiram utilizar a ventosa, mas esta caiu ao chão. Os médicos ficaram aflitos e utilizaram novamente a ventosa. Contudo, eu não saía. Então, cortaram a vagina da minha mãe, e arrancaram-me à força. Como o cordão umbilical estava enrolado no pescoço, com a força que fizeram para que eu saísse, asfixiaram-me.
O casal de médicos virou-me de pernas para o ar e começaram a bater-me nos pés para eu chorar (começar a respirar). Como não estavam a conseguir, decidiram levar-me para o hospital de Barcelos. Estive quinze minutos sem respirar, quando cheguei ao hospital puseram-me numa incubadora. Durante o tempo que estive asfixiada, “quatro partes” do meu cérebro morreram. As primeiras pessoas a conhecer-me foram o meu pai e o meu avô materno. O meu pai viveu tudo o que se passou na sala de partos. O meu avô encontrava-se à porta de sala de partos e viu-me ao colo da enfermeira que me levou na ambulância para o hospital com o meu pai, que estava totalmente pasmado.
Entretanto, a minha mãe estava sozinha na clínica e perguntou aos médicos o que eu tinha e onde estava. Eles disseram que não sabiam muito bem, mas era grave e que ela rezasse para a sua filha morrer. Senão iria ficar um vegetal (uma menina numa cama sem se mexer e sem pensar). Ela ficou traumatizada.
No dia seguinte, transferiram-me para o Hospital Maria Pia no Porto, não parava de saltar e de chorar dentro da incubadora. Então, ligaram para a clínica onde eu tinha nascido a perguntar se a mãe da Ana Rita era toxicodependente ou alcoólica, porque a bebé não parava de saltar e gritar, parecia que lhe faltava alguma coisa (a droga ou o álcool).
Desde o meu nascimento, o meu pai nunca mais me deixou e esteve comigo três dias no Hospital Maria Pia, onde eu só gritava e saltava. Ele ficava à minha beira de manhã até à noite, nesse tempo ele abria a incubadora e metia as mãos dele em cima do meu corpo. Aí, eu parava de saltar e gritar. Quando ele vinha embora e chegava a Barcelos, ligava para lá a perguntar se eu estava a gritar. Mas, não era preciso que eles dissessem nada, porque ele já conhecia os meus gritos e ouvia-os pelo telefone.
A minha mãe só me viu ao terceiro dia. Ela queria matar-se, não só a ela mas a mim também. Depois, pensou e disse:
- “Se a Rita nasceu foi porque Deus quis, e quis que ela fosse assim, por isso não tenho o direito de lhe tirar a vida. E ela vai precisar de mim para estar ao lado dela, não só como mãe mas também como amiga”.
No sétimo dia de vida, fui para a casa dos meus tios, para a minha mãe não ficar só em casa, a minha tia também estava de parto (tenho um primo da minha idade, a diferença entre eu e ele é de cinco dias), e para a minha avó ajudar as duas filhas.
O meu tio como trabalha numa intuição de meninos com deficiências motoras e mentais, ajudava a minha mãe a tratar de mim e dava ideias. Era ele que dava-me banho, comida, mudava-me a fralda, brincava, etc. Todos ajudavam, um estava a dar banho a mim, outro a tirar a roupa ao meu primo para quando eu saísse entrava o meu primo, etc.
Vim para a minha casa quando tinha 3 semanas de vida. Com 1 mês de vida a minha mãe foi trabalhar para a pastelaria, eu fui para a ama e ao fim-de-semana (de sexta-feira à noite até ao domingo) ia para a minha avó, dormia na casa da minha avó, com ela porque a minha mãe e o meu pai trabalham numa pastelaria, por contra própria.
Toda a minha família lutou muito para que nunca me faltasse nada desde o meu nascimento até aos dias de hoje. Quem tem uma família, tem tudo! Eu sou feliz com as pessoas que amo por perto. Obrigada por tudo!

1 comentário:

Coisas e Loisas disse...

Rita, tu és uma LUTADORA, mereces tudo e vais ter!!!!!!


E se enviasses ao teu "Amigo" sr Presidente este !pedacinho! da tua vida desde que nasceste e lhe dissesses que apesar de tudo és Licenciada, inteligente e queres muito trabalhar?


Pensa nisso.

Muitos beijinhos

Zita