quinta-feira, 10 de março de 2016

Uma vida de terapias

Desde os 6 meses, de idade, que faço terapias. Comecei por fazer Fisioterapia e Terapia Ocupacional em São Roque da Lameira, no Porto. Comecei por aprender a virar-me, a ficar sentada (eu não conseguia equilibrar-me sentada), a pegar nas coisas, etc.
Quando tinha 9 meses, estive internada no hospital com uma gastroenterite. Estava deitada na caminha e tinha a chupeta na boca, a minha mãe e avó estavam sentadas num cadeirão há minha frente, viram-me tirar a chupeta da boca, a olhá-la e a coloca-la outra vez na boca. Foi a primeira vez que peguei em alguma coisa. Para a minha família foi uma alegria e uma vitória.
Quando entrei para a primária, com 6 anos, deixei de fazer as terapias em São Roque da Lameira, pois não conseguia conciliar tudo.
Frequentei a Associação APAC, em Barcelos, onde convivi com diversas pessoas, entre as quais: terapeutas, assistentes, psicólogos, funcionárias e crianças com diversos problemas.
Foi em Cuba que comecei a andar sozinha e tinha 8 anos. Tudo foi possível porque tive acesso a tratamentos de reabilitação intensivos e de muitas horas por dias. Conheci pessoas extraordinárias, com muita alegria e amor para dar, mesmo sem querem nada em troca. Faziam fisioterapia manualmente, não existiam máquinas, com exercícios ao ar livre, música e brincadeiras à mistura. Os profissionais que trabalhavam na clínica, faziam-no com uma alegria e energia enorme! Parecia que eram escolhidos a dedo para trabalharem com crianças especiais. Admirava o facto de nunca ralharem ou falarem alto e ganhavam muito pouco monetariamente. Quando as crianças não queriam fazer algum exercício, por estarem saturadas e cansadas, os terapeutas arranjavam alternativas para o exercício ser mais atrativo e dinâmico. Por outro lado, fazer fisioterapia ao ar livre, com paisagens magníficas e atrativas, ajudava muito a passar o tempo, enquanto se trabalhava.
Quando regressei a Portugal, vim com uma enorme progressão. Os fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e terapeutas da fala ficaram pasmados e espantados comigo. Só que em Portugal não existia nenhuma instituição com reabilitação intensiva, onde eu pudesse receber as terapias com a mesma frequência que em Cuba.
Após todos estes anos de terapias, ainda me encontro a frequentar as sessões de fisioterapia e terapia da fala. O espaço onde faço fisioterapia é alegre, com energia positiva, e os fisioterapeutas e funcionária que lá trabalham motivam-me. Recentemente, comecei a andar de passadeira elétrica. Adoro esta atividade, pois dá-me motivação e “pica”.
A minha deficiência motora nunca foi impedimento para eu estudar e frequentar uma escola regular. Sempre fui boa aluna e tirava boas notas. Quando era criança e frequentava a escola, lembro-me que não gostava de ir as terapias, porque queria ir para casa como os meus colegas. A minha mãe dizia-me que os outros meninos iam ao ballet, à dança, ao futebol, e eu ia às terapias. Apesar disso, eu não sentia motivação e estava cansada de ter um dia inteiro de aulas. Desgastava muita energia ao longo do dia, a escrever no computador e a tentar estar concentrada nos estudos e a fazer as coisas corretamente. No entanto, fui-me habitando a essa vida e nos últimos anos, a fisioterapia para mim é como ir a um ginásio, onde faço exercícios e passadeira elétrica, tal como nos ginásios habituais.
Sou feliz assim! Tenho uma vida normal como as outras pessoas, uma família que me dá todo o apoio. Cada dia tenho o prazer de acordar e saber que não morri, e que conseguirei ultrapassar todas as minhas dificuldades com a minha autoestima, e com toda a ajuda daqueles que me rodeiam e me fazem ser cada vez melhor.

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