Desde os 6 meses, de idade, que faço terapias.
Comecei por fazer Fisioterapia e Terapia Ocupacional em São Roque da Lameira,
no Porto. Comecei por aprender a virar-me, a ficar sentada (eu não conseguia
equilibrar-me sentada), a pegar nas coisas, etc.
Quando tinha 9 meses, estive internada no
hospital com uma gastroenterite. Estava deitada na caminha e tinha a chupeta na
boca, a minha mãe e avó estavam sentadas num cadeirão há minha frente, viram-me
tirar a chupeta da boca, a olhá-la e a coloca-la outra vez na boca. Foi a
primeira vez que peguei em alguma coisa. Para a minha família foi uma alegria e
uma vitória.
Quando entrei para a primária, com 6 anos,
deixei de fazer as terapias em São Roque da Lameira, pois não conseguia conciliar
tudo.
Frequentei a Associação APAC, em Barcelos,
onde convivi com diversas pessoas, entre as quais: terapeutas, assistentes,
psicólogos, funcionárias e crianças com diversos problemas.
Foi em Cuba que comecei a andar sozinha e tinha 8 anos. Tudo foi
possível porque tive acesso a tratamentos de reabilitação intensivos e de
muitas horas por dias. Conheci pessoas extraordinárias, com muita alegria e
amor para dar, mesmo sem querem nada em troca. Faziam fisioterapia manualmente,
não existiam máquinas, com exercícios ao ar livre, música e brincadeiras à
mistura. Os profissionais que trabalhavam na clínica, faziam-no com uma alegria
e energia enorme! Parecia que eram escolhidos a dedo para trabalharem com
crianças especiais. Admirava o facto de nunca ralharem ou falarem alto e
ganhavam muito pouco monetariamente. Quando as crianças não queriam fazer algum
exercício, por estarem saturadas e cansadas, os terapeutas arranjavam
alternativas para o exercício ser mais atrativo e dinâmico. Por outro lado,
fazer fisioterapia ao ar livre, com paisagens magníficas e atrativas, ajudava
muito a passar o tempo, enquanto se trabalhava.
Quando regressei a Portugal, vim com uma
enorme progressão. Os fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e terapeutas da
fala ficaram pasmados e espantados comigo. Só que em Portugal não existia
nenhuma instituição com reabilitação intensiva, onde eu pudesse receber as
terapias com a mesma frequência que em Cuba.
Após todos estes anos de terapias, ainda me
encontro a frequentar as sessões de fisioterapia e terapia da fala. O espaço onde
faço fisioterapia é alegre, com energia positiva, e os fisioterapeutas e
funcionária que lá trabalham motivam-me. Recentemente, comecei a andar de
passadeira elétrica. Adoro esta atividade, pois dá-me motivação e “pica”.
A minha deficiência motora nunca foi impedimento para eu estudar e
frequentar uma escola regular. Sempre fui boa aluna e tirava boas notas. Quando
era criança e frequentava a escola, lembro-me que não gostava de ir as terapias,
porque queria ir para casa como os meus colegas. A minha mãe dizia-me que os
outros meninos iam ao ballet, à dança, ao futebol, e eu ia às terapias. Apesar
disso, eu não sentia motivação e estava cansada de ter um dia inteiro de aulas.
Desgastava muita energia ao longo do dia, a escrever no computador e a tentar estar
concentrada nos estudos e a fazer as coisas corretamente. No entanto, fui-me
habitando a essa vida e nos últimos anos, a fisioterapia para mim é como ir a
um ginásio, onde faço exercícios e passadeira elétrica, tal como nos ginásios
habituais.
Sou feliz assim! Tenho uma vida normal como as outras pessoas, uma
família que me dá todo o apoio. Cada dia tenho o prazer de acordar e saber que
não morri, e que conseguirei ultrapassar todas as minhas dificuldades com a
minha autoestima, e com toda a ajuda daqueles que me rodeiam e me fazem ser
cada vez melhor.

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