No
dia 5 de Maio de 1994, às dezasseis horas, decidi vir ao mundo. A minha mãe,
desde manhã, estava a trabalhar e cheia de dores nos rins. Mas às dezasseis
horas começou a ter contracções. Foi à clínica dizer que estava com contracções,
mas queriam fazer o parto no dia seguinte, porque a médica dava consultas e
assim, num intervalo, faziam o parto. Mas as dores e as contracções eram tantas
que a minha mãe às dezassete horas decidiu ir outra vez à clínica. E ficou na
sala de parto até às vinte e duas horas e trinta minutos à espera dos obstetras
que vinham de Braga. Como as águas nunca mais rebentavam, foi a enfermeira que
teve que as rebentar, para a minha mãe estar mais aliviada.
Quem
fez o parto foi um casal de médicos (marido e mulher). Na sala de partos
estavam os dois obstetras, a parteira, o pediatra, a enfermeira e o anestesista.
O meu bater cardíaco estava bom e já estava na posição certa (com a cabeça
encaixada na vagina da minha mãe), por isso decidiram que iria ser parto
normal. Estava tudo para correr bem!
Todavia,
não se aperceberam que eu estava com o cordão umbilical enrolado à volta do
pescoço. Só nasci à meia-noite e quarenta. Estiveram desde as vinte e duas
horas e trinta minutos até à meia-noite e meia a tentar tirar-me. Era
meia-noite e meia do dia 6, a minha mãe estava cheia de dores e já estava na
hora de eu sair. No entanto, isso não aconteceu e os médicos decidiram utilizar a
ventosa, mas esta caiu ao chão. Os médicos ficaram aflitos e utilizaram
novamente a ventosa. Contudo, eu não saía. Então, cortaram a vagina da minha mãe,
e arrancaram-me à força. Como o cordão umbilical estava enrolado no pescoço, com
a força que fizeram para que eu saísse, asfixiaram-me.
O
casal de médicos virou-me de pernas para o ar e começaram a bater-me nos pés
para eu chorar (começar a respirar). Como não estavam a conseguir, decidiram
levar-me para o hospital de Barcelos. Estive quinze minutos sem respirar,
quando cheguei ao hospital puseram-me numa incubadora. Durante o tempo que
estive asfixiada, “quatro partes” do meu cérebro morreram. As primeiras pessoas
a conhecer-me foram o meu pai e o meu avô materno. O meu pai viveu tudo o que
se passou na sala de partos. O meu avô encontrava-se à porta de sala de partos
e viu-me ao colo da enfermeira que me levou na ambulância para o hospital com o
meu pai, que estava totalmente pasmado.
Entretanto,
a minha mãe estava sozinha na clínica e perguntou aos médicos o que eu tinha e
onde estava. Eles disseram que não sabiam muito bem, mas era grave e que ela
rezasse para a sua filha morrer. Senão iria ficar um vegetal (uma menina numa
cama sem se mexer e sem pensar). Ela ficou traumatizada.
No
dia seguinte, transferiram-me para o Hospital Maria Pia no Porto, não parava de
saltar e de chorar dentro da incubadora. Então, ligaram para a clínica onde eu
tinha nascido a perguntar se a mãe da Ana Rita era toxicodependente ou alcoólica,
porque a bebé não parava de saltar e gritar, parecia que lhe faltava alguma
coisa (a droga ou o álcool).
Desde
o meu nascimento, o meu pai nunca mais me deixou e esteve comigo três dias no
Hospital Maria Pia, onde eu só gritava e saltava. Ele ficava à minha beira de
manhã até à noite, nesse tempo ele abria a incubadora e metia as mãos dele em
cima do meu corpo. Aí, eu parava de saltar e gritar. Quando ele vinha embora e
chegava a Barcelos, ligava para lá a perguntar se eu estava a gritar. Mas, não
era preciso que eles dissessem nada, porque ele já conhecia os meus gritos e
ouvia-os pelo telefone.
A
minha mãe só me viu ao terceiro dia. Ela queria matar-se, não só a ela mas a
mim também. Depois, pensou e disse:
- “Se
a Rita nasceu foi porque Deus quis, e quis que ela fosse assim, por isso não
tenho o direito de lhe tirar a vida. E ela vai precisar de mim para estar ao
lado dela, não só como mãe mas também como amiga”.
No sétimo
dia de vida, fui para a casa dos meus tios, para a minha mãe não ficar só em
casa, a minha tia também estava de parto (tenho um primo da minha idade, a
diferença entre eu e ele é de cinco dias), e para a minha avó ajudar as duas
filhas.
O meu tio
como trabalha numa intuição de meninos com deficiências motoras e mentais,
ajudava a minha mãe a tratar de mim e dava ideias. Era ele que dava-me banho,
comida, mudava-me a fralda, brincava, etc. Todos ajudavam, um estava a dar
banho a mim, outro a tirar a roupa ao meu primo para quando eu saísse entrava o
meu primo, etc.
Vim para a
minha casa quando tinha 3 semanas de vida. Com 1 mês de vida a minha mãe foi
trabalhar para a pastelaria, eu fui para a ama e ao fim-de-semana (de
sexta-feira à noite até ao domingo) ia para a minha avó, dormia na casa da
minha avó, com ela porque a minha mãe e o meu pai trabalham numa pastelaria,
por contra própria.
Toda a
minha família lutou muito para que nunca me faltasse nada desde o meu
nascimento até aos dias de hoje. Quem tem uma família, tem tudo! Eu sou feliz
com as pessoas que amo por perto. Obrigada por tudo!

1 comentário:
Rita, tu és uma LUTADORA, mereces tudo e vais ter!!!!!!
E se enviasses ao teu "Amigo" sr Presidente este !pedacinho! da tua vida desde que nasceste e lhe dissesses que apesar de tudo és Licenciada, inteligente e queres muito trabalhar?
Pensa nisso.
Muitos beijinhos
Zita
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