Eu e a minha filha: o mesmo sonho

Um dos meus grandes sonhos é ter filhos, talvez dois.

Na semana passada, sonhei precisamente que tinha uma filha. A quem chamei de Teresa.

Sonhei que a minha filha queria conhecer o Presidente da República. Sempre que o via na televisão dizia: “Mamã, eu gostava de conhecer senhor.”

Eu estava a fazer o jantar, mas dei uma olhadela para a televisão, para ver quem era, e questionei: “Queres conhecer o senhor Presidente da República, porquê filha?”

Ela respondeu: “Porque gosto dele e parece fixe.”

Eu declarei que talvez um dia fossemos conhecer o Sr. Presidente da República, se houvesse uma oportunidade.

Um dia, o Presidente da República veio a Barcelos, através do programa de presidenciais abertas, com o objetivo de estar mais próximo do povo.

Nesse dia, soube que o Presidente estava na Rua Direita, no centro da cidade, e decidi fazer uma surpresa á minha filha. Levei-a no meu carrinho – assim apoiava-me dele e não era preciso andarilho – tentei chegar até ao Presidente, com algum custo. Quando estávamos perante dele, cumprimentamo-nos e eu disse-lhe: “Olá, Sr. Presidente. A minha filha, Teresa, viu-o imensas vezes na televisão e disse-me que gostava muito de conhecê-lo pessoalmente, um dia. Eu soube que o senhor vinha hoje a Barcelos e decidi fazer-lhe uma surpresa, pois ela merece.”

Mas, como eu tenho dificuldades na fala, o Presidente não compreendeu muito bem e preguntou-me outra vez o que disse. A minha filha como já está habituada, apercebeu-se e repetiu – dizendo o meu nome.

O Presidente ficou muito espantado, porque era muito pequena e já sabia repetir o que eu dizia para as outras pessoas saberem o que eu estava a dizer, e preguntou-lhe: “Quantos aninhos tens?”

A Teresa respondeu: “Tenho quarto anos.”

Ele ficou-se a pensar...

Nisto, coloco-a em pé em cima do carrinho – com a ajuda dela. O Presidente pregunta-lhe: “Posso pregar em ti ao colo?”

Ela disse que sim, sorrindo. No seu colo, eu questionei-a: “Filha, explica ao senhor Presidente porque gostas dele e porque o querias conhecer?”

Então ela exclamou: “Eu gosto do senhor porque é uma pessoa fixe e é amigo das pessoas. É por isso que queria conhecê-lo e dar-lhe um abraço e beijinhos.”

Ao ouvir isto, ele abraçou-a e cobriu-a de beijos.

De seguida, ele preguntou-me: “E você, Rita o que tem, que problema tem?”

Ia responder, mas a minha filha antecipou-se: “A minha mamã tem paralisia cerebral por causa do parto, tinha o cordão umbilical á volta do pescoço, os médicos não sabiam e puxaram com muita força para a mamã sair.”

O Presidente ficou espantadíssimos e preguntou como ela sabia isso tudo. Ela respondeu que foi eu que tinha dito e várias pessoas preguntavam e como não compreendiam, algumas palavras que a mãe dizia, ela repetia.

Eu disse: “É verdade, a minha filha sabe tudo o que aconteceu e as minhas limitações. Ela ajuda-me muito, é um anjinho que tenho.”

O Presidente ficou a pensar e olhar para a Teresa. Nisto preguntou-lhe: “Teresinha, andas na escola?”

Respondeu que andava. Ele fez-lhe outra pregunta: “Tens muitos amiguinhos?”

Respondeu que tinha alguns amigos. O senhor preguntou-lhe: “Quem te leva à escolinha?”

A Teresa respondeu: “A mamã ou o papá, mas é mais a mamã porque entra no trabalho à mesma hora.”

Ele continuou: “Tu preferes que seja a mamã ou o papá a levar-te?”

Respondeu: “A mamã. Só não gostei nos primeiros dias, porque os meninos olharam muito espantados para a minha mamã e preguntaram-me porquê que a mamã era assim e disseram que a minha mamã era deficiente. Não gostei que dissessem isso.”

O senhor Presidente questionou-a: “E o que fizeste?”

A Teresa respondeu: “Disse-lhes que a minha mamã tinha paralisia cerebral e como foi. Que não se fica espantado quando uma pessoa é diferente e, também, não se chama ninguém deficiente a ninguém, essa palavra é muito feia e magoa as pessoas. A minha mamã é normal, só tem algumas dificuldades, é muita bonita e inteligente.”

O Presidente ficou muito espantado e fez-lhe outra pregunta: “Gostas muita da tua mamã?”

Ela respondeu-lhe: “Sim. Amo muito a minha mamã e é a melhor do mundo.”

Ao ouvir isto, as lágrimas escorreram-me pela cara abaixo, abracei-me a ela no colo do Presidente e disse-lhe: “Também te amo muito minha princesa, és a melhor filha no universo. Vieste iluminar mais a minha vida, és um anjo. Amo-te.”

Nisto, ela agarra-se ao meu pescoço e dá-me beijos. Seguro-me ao carrinho com uma mão e o Presidente pregunta-me se pode deixar – ela vir para o meu colo. Abano com a cabeça a disse que sim. Peguei na Teresinha ao colo com um braço e ela agarrou-se ao meu pescoço – para me ajudar a segurá-la.  

O Presidente emocionou-se e disse que eu era uma guerreira e uma lutadora. E que a minha filha era uma menina muito especial e inteligente. Agradeci imenso pelas palavras e aquele tempo, foi um prazer conhecê-lo pessoalmente. Ele disse que o prazer foi todo dele e pediu à minha filha para ajudar-me sempre, ser uma filha exemplar e para não deixar ninguém “maltratar-me”.

Foi assim este meu sonho! O sonho de quando eu tiver os meus próprios filhos.

Espero que quando tiver filhos que: me amem do jeito com sou; lutem pela discriminação; me ajudem no dia-a-dia; sejam meigos e afáveis; me considerem a sua melhor amiga, conselheira, confidente,…; nos possamos divertir sempre juntos, já que não posso ir sozinha (nessas ocasiões tratarem-me como sua irmã ou amiga, para a diversão ser com mais intensidade); expliquem aos outros que sou (nós, pessoas com deficiência) uma pessoa normal; digam aos outros para não olharem para mim de “lado” e com pena; afirmem que sou a mãe melhor do universo e não trocariam de mãe por nada desse mundo (noutra geração queriam-me, novamente, como mãe); entre outras coisas, boas.

Sei que para os nossos filhos serem assim é, também, necessário terem uma boa educação. No entanto, alguns nascem com um dom, como eu, que amo incondicionalmente a minha mãe e pai, não os trocaria por nada e noutra vida, se essa houver, quero os mesmos pais.

Educarei e tenterei que os meus filhos sejam assim!